segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

A lenda do metal vivo

O coração da jovem palpitava cada vez mais acelerado. Que verdade seria essa? Tudo o que Izayoi queria era saber um meio de voltar para sua casa. Começou a olhar fixamente para o círculo de água.
Os magos ao redor entregaram a Eliot um báculo dourado.
- Não vejo nada – disse Izzy.
Eliot tocou a borda do círculo com o báculo. A água começou a ficar agitada.
- E agora? – perguntou o mago.
A água mágica começou a mostrar imagens de um mundo que Izayoi não conhecia. Mostrava o céu, florestas, aldeias, crianças brincando, animais e tantas outras coisas que a encantaram. Eram lugares lindos.
- Sim. Diversas imagens – respondeu a garota.
- Esta é Farh.
- Então existem muitos outros lugares além deste? – indagou com espanto.
- Kirpa é apenas uma pequena gota em um oceano. Todas essas imagens que você vê são lugares de Farh.
- E como eu nunca ouvi falar desse lugar antes. Está no mapa mundi? Os cientistas já descobriram? – questionava a garota, já imaginando que havia feito uma descoberta científica.
Eliot sorriu mais abertamente.
- Farh fica localizado no mundo interior. Você vivia no mundo exterior. Não há conexão entre os mundos. Ninguém daquele mundo pode vir a este, a não ser o escolhido.
- Escolhido?
Eliot, mais uma vez, tocou o círculo com seu báculo. Neste instante as imagens mudaram novamente. Mostrava, agora, lugares sendo cobertos por uma densa escuridão, e um medalhão.
- Este é o medalhão do poder. Toda Farh é mantida por ele. Ninguém sabe ao certo a extensão de seus poderes. Só a dinastia real pode controlá-lo. Aquele que tiver o controle sobre ele pode trazer a paz ou caos para Farh, pode salvar ou destruir. Todos os reis que se assentaram no trono desejavam a paz, e nossa terra se manteve estável, pelo menos até agora.
Eliot abaixou a cabeça em sinal de tristeza.
- O nosso Rei Zef faleceu e deixou o trono para sua herdeira Izabo. O extremo poder do medalhão a corrompeu, e Farh está sendo tragada pelas trevas assim como o coração da nossa princesa. O nosso mundo não tem outra escolha, se o medalhão não for destruído, logo estará completamente na escuridão. Isso já foi previsto numa profecia muito antiga.
- Se o medalhão for destruído, esse mundo não será destruído junto com ele? – perguntou a moça.
- Diz à lenda que um guerreiro escolhido do mundo exterior viria a este mundo. Com sua força, despertaria a única arma capaz de destruir o medalhão do poder. A arma que dorme nas longínquas terras de Kinslei, onde o céu toca o chão. Ela foi forjada com um raro metal, que sobreviveu desde os tempos mais antigos. Metal que possui vida. No nosso mundo não há mais nenhum metal como este. Com essa arma, destruiria o medalhão corrompido e o poder que rege nosso mundo seria purificado, se restaurando em outro símbolo, trazendo a paz para sempre.
- Metal vivo?
- Exatamente, por isso ninguém sabe que forma essa arma lendária possui.
- Como você conseguiu flutuar sobre o lago? Como conseguiu fazer aquilo com o chão?
- No mundo em que foi criada, tudo em que se acredita é naquilo que se pode tocar, porém aqui você deverá aprender a crer em coisas muito além do que seus olhos podem ver; naquilo que ainda não pode tocar.
-Então, você conseguiu fazer todas aquelas coisas simplesmente acreditando?
- Acreditar não é simples. Tirar por completo todas as dúvidas do coração pode-se levar tempo.
- E esse guerreiro lendário, poderá fazer todas essas coisas?
- Isso e muito mais. Poderá evocar poderes ainda mais fantásticos, utilizando apenas a força de seu coração.
- E você presume que esse guerreiro sou eu?
- Somente o escolhido pode atravessar os mundos.
- Deve haver algum engano. Eu jamais peguei numa arma antes, nem mesmo numa de brinquedo. Não sei lutar. Sinto muito pelo problema de vocês, mas isso não tem nada haver comigo. Não consigo nem ficar em primeiro lugar no teste geral. Eu não sou esse guerreiro lendário. Vocês pegaram à garota errada.
- Sua vida tem um propósito. Não nasceu por culpa do acaso, mas está em suas mãos cumprir com esse propósito ou não.
A jovem sentia um aperto em seu peito. Será que aquela visão que teve antes de chegar aqui era do futuro? O futuro negro que esperava o povo de Farh? Daria as costas para um povo inteiro? - um grito ecoou no salão tirando a garota de seus pensamentos.
- Mestre! Mestre! – gritou-se atrás do enorme portal do salão principal.
- Portal! – disse Eliot, apontando o enorme báculo.
Imediatamente o portal se abriu e um dos homens que pertencia à escolta entrou na sala em desespero.
- O escudo foi quebrado. Nossos homens se preparam para a batalha.
- Só há uma pessoa com poderes para tanto – afirmou o mago comandante.
- Quem poderia fazer algo assim, Eliot? – disse Izzy interropendo a conversa.
Eliot olhou para o chão com o semblante caído, como alguém que lamenta profundamente. Novamente ergueu seu rosto e virando-se para jovem respondeu:
- O corcel negro.

domingo, 17 de dezembro de 2006

A cidade dos magos

Caminhavam por uma trilha na floresta. Aquele que disse se chamar Eliot ia à frente. Notava-se que ele era o comandante daqueles homens. A paisagem parecia ser uma floresta comum, as árvores eram enormes e belas. Todos aqueles homens que estavam ao redor do lago, acompanhavam-na pelo caminho. Era uma numerosa escolta.
Izzy andava cabisbaixa. Para onde estão me levando afinal? – pensava assustada. Onde seria esse castelo ao qual aquele homem havia mencionado?
Por todos os lados que se olhasse, só se via árvores e mata. À medida que caminhavam, se aproximavam cada vez mais de um gigantesco penhasco. Aquele lugar não passava de uma enorme floresta. Cidade dos magos? Como poderia haver uma cidade ali? – indagava consigo mesma. Quando chegou a beirada do penhasco, olhava para frente, para o horizonte e via apenas às milhares de árvores que cobriam toda aquela área enorme.
- Onde está a tal cidade? – perguntou.
Eliot sorriu levemente e com a cabeça, apontou para baixo.
- Nossa! – disse a garota perplexa – Eu nunca vi nada igual em toda minha vida!
A visão realmente tirou o chão de seus pés. Era magnífica, e vista de cima era mais esplêndida ainda. Uma cidade que parecia ser toda construída com cristal, com suas imensas torres ponte-agudas. Estava envolvida em uma enorme redoma transparente. Os raios de luz que batiam nessa redoma, refletiam espectros coloridos. Por isso a grande cidade resplandecia como um arco-íris. Izzy nem se movia. Poderia ficar horas admirando aquela beleza.
- Devemos ir agora – disse o mago comandante.
Ir? – pensou a jovem – Como? Este penhasco é enorme? Não há como chegar até lá. Será que fazem rapel por aqui? – questionava ainda em seus pensamentos.
Eliot riu novamente.
- Não se preocupe – disse.
Logo após, olhou firmemente para o chão e disse: - Terra!.
Quando Eliot terminou de pronunciar esta palavra, o chão começou a mudar e tomar forma de uma grande escada que os levaria lá em baixo, até a cidade. Mais uma vez o mago conseguiu deixar a jovem atordoada e sem saber em que acreditar.
Desceram até a cidade. Izzy questionava-se, pois já era a segunda vez que Eliot respondia-lhe uma pergunta feita apenas em seus pensamentos. Poderia ler minha mente? – pensou. Queria fazer o teste.
- Esse mago feio, parece não saber de nada. Por que será que anda descalço? Deve ser porque não tem sapatos – começou a pensar. Enquanto ela ainda pensava, Eliot virou-se de maneira brusca para olhar a menina. Lançou um olhar feroz, como que se emitisse raios através dele. A garota rapidamente se escondeu atrás do homem que estava ao seu lado. Acabara de confirmar; realmente ele podia ler seus pensamentos.

Chegaram a um enorme castelo que ficava no coração da cidade. Nele entraram apenas Eliot e Izzy. A escolta ficou toda do lado de fora. Conforme iam caminhando dentro do palácio, as pessoas se curvavam em reverência.
No salão principal, havia vários magos a espera deles. Todos em volta de uma espécie de círculo no chão. Parecia conter água ou alguma espécie de líquido. Uma parte do chão era feita de água pelo que parecia. Havia também várias colunas que sustentavam o alto teto.
- Deixe eu me apresentar de maneira correta. Sou Eliot, regente de Kirpa, a cidade dos magos - disse o mago comandante.
- O prefeito foi me buscar pessoalmente! – bradou a jovem espantada.
Eliot sorriu gentilmente dizendo: - Você é muito mais do que pensa que é Izayoi.
- Por que eu estou aqui? Que lugar é este onde coisas tão estranhas acontecem?
- Aproxime-se do círculo.
Izzy caminhou até a beira do círculo.
- Limpe seu coração, Izayoi. Esqueça-se de tudo o que aprendeu. Você verá agora somente a verdade.
Mas será que ela queria mesmo saber? Qual seria o preço dessa tal verdade?

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

O retorno

Sentia que seu corpo já não obedecia mais aos seus comandos. Sabia que estava caindo. Mas para onde? Quem poderia saber? Era, na verdade, uma grande queda. Ainda sentia o vento. Ainda podia ver a luz. Seu corpo apenas caia em câmera lenta. Quando sentiria a sensação da água?
Lentamente a sensação foi mudando de queda para mergulho. E a escuridão tomou conta de sua visão por completo. Tudo o que ouvia, agora, eram aquelas vozes chamando por seu nome, como se fossem inúmeras orações.
Quem somos? De onde viemos? E para onde vamos? Pareciam perguntas tão sem significado agora. Que pensamento, esforço ou capacidade humana poderia evitar o que era inevitável? Izzy sabia que logo chegaria a algum lugar. A pergunta maior era: o que encontraria lá?
A escuridão começava a se dissipar. Podia ver novamente. Ver os raios de luz dentro da água. Tudo o que tinha que fazer era nadar até a superfície. O alívio tomou conta de seu coração. Havia uma saída. Nadou desesperadamente até chegar à superfície. Inspirou com tanta alegria, que parecia ser o ar o bem mais importante que um dia já tivera. Porém a luz incomodava-lhe. Era forte demais. Aos poucos, suas frágeis pupilas iam se acostumando com aquele brilho ofuscante.
Olhou ao redor e viu homens vestidos de branco, ajoelhados em volta do lago. Todos estavam com a cabeça baixa, como se não ousassem olhar para o que se encontrava diante deles.
Onde estou? – pensou atordoada.
- Está em Kirpa – ouviu repentinamente - Esta é a cidade dos magos. Está em segurança, entre amigos.
A jovem virou-se, bruscamente, para ver de onde vinha tal resposta. Ainda esforçava-se para que seu corpo não afundasse por completo, quando viu aquela estranha figura. Era um homem, vestido com um estranho manto carmesim. Tinha cabelos compridos, olhos escuros e gentis. Aproximava-se do lago, com os pés descalços. Estava a alguns metros de distância, mas Izzy ouviu sua voz nitidamente, como se estivesse falando com ele frente a frente.
Os braços da garota já estavam cansados. Não conseguia mais manter-se boiando sobre a superfície do lago. Começou a afundar. Lutava para colocar a cabeça para fora, mas seus esforços pareciam inúteis. Num pequeno momento, em meio a esses esforços, viu aquele homem. Estava diante dela, flutuando por sobre o lago. Pensava ser um delírio que antecede a morte.
- Não pode ser real – afirmava dentro de si com plena convicção. Convicção que durou até o momento em que ouviu aquela mesma voz que ouvira antes dizendo: - Água já basta!
Imediatamente seu corpo parou de afundar. Era como se a água começasse a sustentar seu corpo. Agora se mantinha firme, com parte do corpo fora da água sem esforço nenhum. Olhou para aquele estranho indivíduo querendo agradecer-lhe, mas não saia voz alguma de sua boca. Estava perplexa demais para conseguir falar.
- Sou Eliot – disse o homem estendendo a mão em direção a jovem.
Izzy gesticulou com a cabeça em sinal de agradecimento e colocou, suavemente, sua mão sobre a dele. Neste momento seu corpo começou a emergir. Em poucos segundos estava completamente fora da água, contudo sentiu algo sólido sob seus pés. Olhou para baixo e o lago havia se solidificado, como se tivesse se transformado em vidro.
Todos os que estavam em volta do lago começaram a se aproximar.
- Eu morri? – perguntou a garota com a voz fraca.
- Não. Apenas retornou.
- Retornei? – indagou, agora com a voz mais forte.
- Venha comigo até castelo e todas as suas perguntas serão respondidas.
- Tenho que voltar para casa.
- Casa? Esta é sua casa.
- Não é real. Não pode ser real.
- Não duvide. É sua missão e seu destino.
Um estranho sentimento começou a tomar conta do coração de Izayoi. Que destino seria esse que a aguardava?

sábado, 9 de dezembro de 2006

A visão no lago

Durante toda a aula, não se atreveu a abrir o bilhete. Logo voltou a realidade. Nenhum garoto jamais havia se interessado por ela. Não era do tipo de garota muito atraente. Lembrou-se que o único que havia lhe feito uma declaração de amor era o Melvin e ele acreditava ter vindo de uma galáxia distante. Com certeza é algum tipo de brincadeira! – esse pensamento se fixava, cada vez mais, em sua mente.
Estava tão concentrada em seus próprios pensamentos que nem percebeu o sinal tocar, muito menos que o dia já havia passado.
- E aí? O que diz o bilhete? – perguntou Chidori euforicamente.
- Hum?- Izzy nem havia percebido que sua amiga se aproximara.
- Alo! Acorda! O que diz o bilhete? Será que é algum admirador misterioso? – perguntou a amiga em meio à gargalhadas.
- Ainda não vi.
- Como não viu? Deixa eu ver – disse, tomando-o rapidamente das mãos de Izzy.
- Ei!
- Me encontre na ponte do lago após a aula. – lia com entusiasmo - É um encontro! Você tem um encontro!
- Com certeza é o Melvin querendo me mostrar suas formigas galácticas.
- Não vai saber se ficar parada aí. Anda! Já faz dez minutos que a aula acabou. Você tem que se apressar. O que está esperando?
- Quem disse que eu vou?
- De qualquer maneira sua casa fica nessa direção. Vai ter que passar por lá mesmo. Não te custa dar uma olhadinha. Vamos logo! – a jovem puxou fortemente o braço de sua amiga, levando-a em direção a porta.

Durante o percurso, Izzy só pensava em formas de dar um “fora” em Melvin.
Talvez se dissesse que alienígenas não existem? Não, isso seria desiludi-lo demais – pensou.
- Lá está. Boa sorte! – disse Chidori dando um tapinha nas costas da amiga.
- Ei, você não pretende... – disse virando-se para amiga, mas esta, já estava a metros de distância - Não perderei nada indo até lá. O lago é sempre tão bonito a essa hora do dia – disse com resignação.

É verdade. O lago era sempre lindo e, ao cair da tarde, parecia mais bonito ainda. Ficava escondido em meio às robustas árvores que povoavam todo aquele bosque.
Havia apenas uma pequena ponte que ligava as margens do lago. Sua madeira era antiga, porém sua aparência ainda era forte, pelo jeito era resistente ao tempo. A água era sempre límpida, tanto que dava para ver os diversos peixes claramente, como num enorme aquário.
Izzy se aproximou lentamente da ponte. Não havia ninguém nela e relutava consigo mesma sobre a possibilidade de uma espera. Aquela paisagem majestosa era a única razão dela ainda permanecer ali.
Fixava o olhar para o horizonte, enquanto se aproximava do centro da ponte. Aquela vista maravilhosa, aos poucos, a fazia esquecer a razão pela qual havia vindo. Seu coração, cada vez mais se esvaziava de sua vida. Neste momento, seus pensamentos foram interrompidos por um leve sussurro que dizia: - Izayoi...
Olhou para os lados em busca do autor do chamado, mas não havia ninguém. A voz se tornava cada vez mais forte e já não se podia mais discernir se era voz ou vozes que, incessantemente, ecoavam dizendo: - Iza... - yoi...
Voltou seus olhos para o lago que, estranhamente, se tornara negro. A água escura refletia sua imagem como um espelho. Aos poucos, a imagem refletida mudava sua forma. Mostrava, agora, pessoas em fuga pelo desespero, estranhas construções vindo a baixo e uma cidade tomada pelas chamas.
A garota permanecia imóvel. Seus olhos pareciam não acreditar no que via. Sua alma fora tomada completamente por aquela estranha visão. O que poderia ser aquilo? – pensava. Era diferente de tudo o que já havia visto.
Seu corpo se inclinava cada vez mais na ponte. Talvez, se tocasse o lago, ele voltaria ao normal – imaginava. Só que já não havia mais ponte, nem lago e muito menos como voltar atrás.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Apenas uma colegial

- Izzy!
Toda a vez que essa palavra era pronunciada, Izayoi sabia que o negócio era com ela. Desde que se entendia por gente, era Izzy. Tanto que, “Izayoi” já havia se perdido no tempo. A única pergunta que pairava em sua mente era: o quê querem comigo agora? - pensava isso, enquanto ainda desfrutava de sua cama quentinha.
- Izzy! – novamente ouviu.
Então decidiu se arriscar e colocar a cabeça para fora do “ofuton”* para ver o que estava acontecendo. Por que será que ninguém é capaz de respeitar um soninho tão gostoso? – imaginava. Seus resmungos em pensamento, nem tinham acabado quando resolveu dar uma olhadinha no relógio.
- O QUÊ!!!!!!!!!!!! Já é essa hora! Estou atrasada!
Levantou-se da cama como um furacão, tragando tudo que precisava para ir à escola em fração de segundos.
Mais que depressa desceu as escadas.
– Mama, depressa! Depressa! Estou atrasada. – falava ofegante.
- Já estou te chamando a mais de meia hora. Você não tem jeito mesmo! – a mãe balançava a cabeça.
Como que num passe de mágica, de furacão, passou para aspirador de pó, sugando a comida que estava sobre a mesa, num piscar de olhos. Se faria digestão ou não, essa é uma outra história.

Izzy era uma garota assim. Apesar de ser iniciante nessa vida de estudante colegial, estava se saindo até que bem. Não era a mais aplicada, mas também não era a pior da turma. Não possuía sonhos de grandeza, nem muitas ambições; para falar a verdade, pensar no futuro não era muito o seu forte.
Era filha única de um casal bem sucedido. Mais uma garota entre tantas. Sofria estranhas metamorfoses, para superar os difíceis obstáculos da vida cotidiana. Ela facilmente se transformava em furacão, aspirador ou qualquer objeto ou fenômeno natural que viesse a calhar no momento. Pensando assim, sua vida daria um bom enredo de mangá japonês.

Apesar de toda a agitação, conseguiu chegar à escola a tempo. Passava seu tempo livre esquematizando planos infalíveis para driblar o porteiro. Possuía exatamente mil, e, acabara de usar seu milésimo plano. Como faria para entrar amanhã? Izzy realmente não se preocupava muito com o futuro.
Com muito esforço, conseguiu chegar à sala antes do professor. Ainda organizava suas coisas na carteira, quando ouviu um “psiu” que parecia vir do fundo da classe. Olhou para todos os cantos e viu sua amiga Chidori chamar-lhe a atenção.
- Em baixo da carteira – sussurrava Chidori, como quem não quer chamar a atenção.
Izzy levou a mão por baixo da carteira, para procurar o quê a amiga estava apontando. Encontrou um pequeno bilhete. Uma estranha emoção começou a tomar conta de seu coração. Não estava acostumada a receber bilhetinhos. Seria de algum garoto apaixonado? Poderia ser do Key? Mesmo ele sendo o mais cobiçado da escola, também poderia se interessar por mim – pensava apertando o pedaço de papel contra o peito, ainda sem abri-lo. Mal sabia ela que sua vida estava prestes a mudar para sempre.


* Ofuton : espécie de cobertor japonês.
* Tradução do título: Princesa Izayoi