“ Como o ressoar de um trovão
Acende-se a chama em meu coração
A nossa amizade é o que tenho de mais valioso
Jamais deixarei que se vá, amigo precioso...”
Mais um! – pensava a jovem, enquanto segurava seu grande amigo. Acariciava-lhe o rosto sem cor, desejando que voltasse a vida. Quantos inocentes mais pagariam? O preço ia se tornando cada vez maior. O que poderia ser mais valioso que seu melhor amigo?
Izzy olhava ao seu redor. Por todos os lados só havia pessoas caídas e destruição. Não sobrou nenhum guerreiro para combater aquele monstro. Ninguém que pudesse ajudar. Estava sozinha diante do gigantesco mononoke.
O desejo de justiça se tornou muito grande em seu coração. Quanto mais via que seus esforços para reanimar Dan eram inúteis, mais crescia a vontade de punir o autor daquilo.
Izzy levantou-se lentamente. Lançou um olhar mortal para aquele ser, enquanto limpava a última gota de lágrima de seu rosto. Não era mais hora de chorar e sim de agir. Não se importava com coisa alguma, não tinha mais nada a perder. Sabia, apenas, que se não o detivesse, todos morreriam. Porém, precisava de algo extremamente forte para abatê-lo.
Nesse momento o céu lhe chamou a atenção. As nuvens negras comportavam inúmeros trovões. A alma da jovem estremecia ao som de cada um deles, como se conseguisse sentir seu poder. O céu a chamava e o seu apelo era como se quisesse revelar-lhe segredos indescritíveis. O segredo do poder dos trovões. Ouvia, novamente, aquelas vozes, mas desta vez, não como preces e sim como uma melodia, que a deixava em perfeita sintonia com o céu. Aquele canto dizia-lhe para fortalecer o coração e o espírito a ponto de suportar o intenso poder, se fizesse isso, bastaria um chamado e os raios a obedeceriam.
A dor por presenciar a queda de seu companheiro a anestesiou por completo. Acabaria com aquela criatura nem que fosse a última coisa que fizesse. No interior dela não tinha mais espaço para medo ou dúvida. O sentimento de amizade a fazia acreditar que podia derrotar seu inimigo.
O lobo gigante agarrou seu machado e com toda ira partiu para cima da moça. Neste instante Izzy estendeu seu braço direito para cima. Não importava se podia suportar ou não, se viveria ou não. Precisava daquele poder. Queria que o céu fosse apenas uma extensão de se braço. E estando ainda com o braço erguido bradou:
- Pois eu o chamo agora!!!! TROVÃAAOOOO!!!!!!!!
Um clarão cobriu a jovem e os incontáveis “flashs” corriam por todo seu corpo. Não existia mais um raio, aquilo se transformou em algo totalmente novo. Era parte dela. Corria por seus membros, igual a um brinquedo ou um bichinho de estimação. Ela o sentia perfeitamente e percebeu que poderia fazer com aquilo o que quisesse. Mas Izzy sabia muito bem o queria. Olhou fixamente para a figura do animal e gritou:
- MORRAAAA!!!!!!!!!
A rajada mortal atingiu em cheio a criatura que foi arremessada para longe. A garota também caiu de joelhos. Respirava ofegante. O desgaste era evidente.
Vendo o oponente caído à distância, a jovem voltou a si. Já não havia mais nenhum resquício daquele poder em seu corpo. Só via subir a fumaça que saia do corpo do monstro. Fumaça própria de algo que acabara de receber uma descarga elétrica.
Quando voltou para o arqueiro, caiu na realidade. Mesmo com a morte da criatura, seu amigo não seria trazido de volta. O silêncio tomou conta do lugar se tornando sua única companhia. As vozes já não mais falavam ao seu coração. O ódio já havia passado dando lugar à reflexão. O que posso fazer por meu amigo? Se eu acreditar, Dan poderia acordar? – questionou em pensamento.
Fechou seus olhos, começou a dizer consigo mesmo que ele acordaria. Repetiu várias vezes essa afirmação e quando os abriu novamente, viu que ele ainda permanecia naquele mesmo estado.
Acreditar não era simples. Como poderia crer em algo que ia contra o que seus olhos estavam vendo? Izzy fechou novamente seus olhos. Não havia mais poder algum. Não havia sobrado nada. A moça levantou a cabeça do rapaz e a apertou contra seu peito.
- Acorde Dan. Por favor! – sussurrou em profunda dor.
Quando terminou de pronunciar estas palavras sentiu alguma coisa pulsar em sua cintura. Procurou em sua roupa e encontrou aquele saquitel que Eliot havia lhe entregado. Rapidamente o abriu e encontrou um estranho pó brilhante. Aquilo pulsava cada vez mais forte nas mãos da jovem como se dissesse que poderia ajudar. A garota entendeu o recado e lançou aquele pó por sobre o corpo do rapaz. Após isso seus olhos nem piscavam. Aguardava ansiosamente o resultado. Depois de alguns momentos, percebeu um leve movimento nos dedos do moço. Aos pouquinhos ele abria os olhos. Izzy na conseguiu conter a felicidade.
- O que houve? – perguntou o jovem atordoado.
- Você está bem! Fico tão feliz!
Um gentil e apertado abraço acompanhou a frase e as lágrimas da jovem já não eram mais de tristeza e sim de emoção e alegria.
Dan, levantando-se parcialmente, olhou para o mononoke derrotado. Vendo aquela cena, mais ou menos conseguia deduzir o que havia acontecido. Aquela que o abraçava realmente era o guerreiro escolhido. Não lhe perguntaria mais nada agora. Sabia que tudo era muito recente para ela e que depois teriam tempo para conversar com calma.
A garota ainda ajudava o rapaz a se levantar quando perceberam estranhas sombras nas árvores que observavam de longe.
- Dan!
- Xiiii! – disse o arqueiro fazendo um sinal pedindo silêncio.
- O que foi?
- Ainda não acabou!