segunda-feira, 23 de abril de 2007

Espírito Guerreiro



“ Como o ressoar de um trovão
Acende-se a chama em meu coração
A nossa amizade é o que tenho de mais valioso
Jamais deixarei que se vá, amigo precioso...”



Mais um! – pensava a jovem, enquanto segurava seu grande amigo. Acariciava-lhe o rosto sem cor, desejando que voltasse a vida. Quantos inocentes mais pagariam? O preço ia se tornando cada vez maior. O que poderia ser mais valioso que seu melhor amigo?
Izzy olhava ao seu redor. Por todos os lados só havia pessoas caídas e destruição. Não sobrou nenhum guerreiro para combater aquele monstro. Ninguém que pudesse ajudar. Estava sozinha diante do gigantesco mononoke.
O desejo de justiça se tornou muito grande em seu coração. Quanto mais via que seus esforços para reanimar Dan eram inúteis, mais crescia a vontade de punir o autor daquilo.
Izzy levantou-se lentamente. Lançou um olhar mortal para aquele ser, enquanto limpava a última gota de lágrima de seu rosto. Não era mais hora de chorar e sim de agir. Não se importava com coisa alguma, não tinha mais nada a perder. Sabia, apenas, que se não o detivesse, todos morreriam. Porém, precisava de algo extremamente forte para abatê-lo.
Nesse momento o céu lhe chamou a atenção. As nuvens negras comportavam inúmeros trovões. A alma da jovem estremecia ao som de cada um deles, como se conseguisse sentir seu poder. O céu a chamava e o seu apelo era como se quisesse revelar-lhe segredos indescritíveis. O segredo do poder dos trovões. Ouvia, novamente, aquelas vozes, mas desta vez, não como preces e sim como uma melodia, que a deixava em perfeita sintonia com o céu. Aquele canto dizia-lhe para fortalecer o coração e o espírito a ponto de suportar o intenso poder, se fizesse isso, bastaria um chamado e os raios a obedeceriam.
A dor por presenciar a queda de seu companheiro a anestesiou por completo. Acabaria com aquela criatura nem que fosse a última coisa que fizesse. No interior dela não tinha mais espaço para medo ou dúvida. O sentimento de amizade a fazia acreditar que podia derrotar seu inimigo.
O lobo gigante agarrou seu machado e com toda ira partiu para cima da moça. Neste instante Izzy estendeu seu braço direito para cima. Não importava se podia suportar ou não, se viveria ou não. Precisava daquele poder. Queria que o céu fosse apenas uma extensão de se braço. E estando ainda com o braço erguido bradou:
- Pois eu o chamo agora!!!! TROVÃAAOOOO!!!!!!!!
Um clarão cobriu a jovem e os incontáveis “flashs” corriam por todo seu corpo. Não existia mais um raio, aquilo se transformou em algo totalmente novo. Era parte dela. Corria por seus membros, igual a um brinquedo ou um bichinho de estimação. Ela o sentia perfeitamente e percebeu que poderia fazer com aquilo o que quisesse. Mas Izzy sabia muito bem o queria. Olhou fixamente para a figura do animal e gritou:
- MORRAAAA!!!!!!!!!
A rajada mortal atingiu em cheio a criatura que foi arremessada para longe. A garota também caiu de joelhos. Respirava ofegante. O desgaste era evidente.
Vendo o oponente caído à distância, a jovem voltou a si. Já não havia mais nenhum resquício daquele poder em seu corpo. Só via subir a fumaça que saia do corpo do monstro. Fumaça própria de algo que acabara de receber uma descarga elétrica.
Quando voltou para o arqueiro, caiu na realidade. Mesmo com a morte da criatura, seu amigo não seria trazido de volta. O silêncio tomou conta do lugar se tornando sua única companhia. As vozes já não mais falavam ao seu coração. O ódio já havia passado dando lugar à reflexão. O que posso fazer por meu amigo? Se eu acreditar, Dan poderia acordar? – questionou em pensamento.
Fechou seus olhos, começou a dizer consigo mesmo que ele acordaria. Repetiu várias vezes essa afirmação e quando os abriu novamente, viu que ele ainda permanecia naquele mesmo estado.
Acreditar não era simples. Como poderia crer em algo que ia contra o que seus olhos estavam vendo? Izzy fechou novamente seus olhos. Não havia mais poder algum. Não havia sobrado nada. A moça levantou a cabeça do rapaz e a apertou contra seu peito.
- Acorde Dan. Por favor! – sussurrou em profunda dor.
Quando terminou de pronunciar estas palavras sentiu alguma coisa pulsar em sua cintura. Procurou em sua roupa e encontrou aquele saquitel que Eliot havia lhe entregado. Rapidamente o abriu e encontrou um estranho pó brilhante. Aquilo pulsava cada vez mais forte nas mãos da jovem como se dissesse que poderia ajudar. A garota entendeu o recado e lançou aquele pó por sobre o corpo do rapaz. Após isso seus olhos nem piscavam. Aguardava ansiosamente o resultado. Depois de alguns momentos, percebeu um leve movimento nos dedos do moço. Aos pouquinhos ele abria os olhos. Izzy na conseguiu conter a felicidade.
- O que houve? – perguntou o jovem atordoado.
- Você está bem! Fico tão feliz!

Um gentil e apertado abraço acompanhou a frase e as lágrimas da jovem já não eram mais de tristeza e sim de emoção e alegria.
Dan, levantando-se parcialmente, olhou para o mononoke derrotado. Vendo aquela cena, mais ou menos conseguia deduzir o que havia acontecido. Aquela que o abraçava realmente era o guerreiro escolhido. Não lhe perguntaria mais nada agora. Sabia que tudo era muito recente para ela e que depois teriam tempo para conversar com calma.
A garota ainda ajudava o rapaz a se levantar quando perceberam estranhas sombras nas árvores que observavam de longe.
- Dan!
- Xiiii! – disse o arqueiro fazendo um sinal pedindo silêncio.
- O que foi?
- Ainda não acabou!

sexta-feira, 13 de abril de 2007

O vilarejo de Quil-oc

Por vários dias Izzy e Dan andaram pela trilha. Alimentavam-se de caça e frutos silvestres que encontravam pelo caminho. A jovem aprendeu rapidamente a sobreviver nesse novo mundo. Em alguns momentos se lembrava do gosto do chocolate, do refrigerante e tantas outras guloseimas que adorava. Mas a cada passo mais se conformava que, talvez, jamais experimentasse tais coisas novamente.
Durante a viagem, o arqueiro compartilhou sua história com a moça. Falou sobre sua infância, seu treinamento, sua entrada para o exército real e como a realidade daquele lugar havia mudado com a morte do rei. Izzy, por sua vez, contou sobre seu mundo. O jovem custava a acreditar que poderiam existir máquinas gigantescas que voam pelo céu, e outras que iam além do céu, assim como ela custava a crer que pessoas podiam flutuar apenas por acreditar que podem. O choque de conhecimentos era grande, mas isso não os impedia de serem cada vez mais amigos. As diferenças até os ajudavam a crescer num momento de dificuldade.
Se esforçavam para cruzar uma densa floresta, que mais parecia um labirinto e, após muita mata, viram o céu novamente. Logo a frente havia uma espécie de muralha feita com toras de árvores. A garota olhou para a palma de sua mão e viu que o triângulo mágico apontar para aquele lugar.
- Que lugar é este? – perguntou a jovem admirando a enorme construção.
- É um vilarejo! Estamos na terra de Quil-oc. Pelo que sei este lugar é pacífico. Estaremos seguros aqui. Podemos ficar uns dias e aproveitamos para conseguir suprimentos.
Izzy olhava tudo com surpresa. Além de Kirpa não havia visto nenhuma outra cidade. Cruzaram o portão acompanhando as inúmeras carroças que transitavam por ali. Era uma vila grande, mas bem humilde. Não se comparava com a beleza da cidade dos magos. Por aí, ela percebeu que, assim como em sua terra, Fahr também possuía diferentes lugares e pessoas.

Dan logo encontrou um lugar para se hospedarem. Uma velha pousada, cuja proprietária era mãe de um amigo que havia lutado ao seu lado no exército da resistência. Lá puderam descansar. Izzy não tomava banho direito há dias. O jovem arqueiro já estava acostumado às duras privações de uma jornada como esta, mas a moça tinha que se acostumar a cada minuto.
Após desfrutarem de um leve conforto, os jovens sentaram-se a mesa. Não era um banquete, mas eles não viam tanta comida assim há muito tempo. De repente o rapaz notou prato por prato passar por ele com se estivesse sendo sugado. Olhou para Izzy e se espantou quando viu que ela estava comendo em uma velocidade incrível. Rapidinho acabaria com tudo. Na verdade era difícil de acreditar que uma jovem tão delicada como aquela tivesse tamanho apetite.
- Que bom que gostou da comida – disse a senhora proprietária aproximando-se da mesa.
- Está uma delícia – tentou dizer a moça, mas como estava com a boca cheia nem todos os ouvintes conseguiram entender.
- Izzy não sei como é no seu mundo, mas aqui é falta de educação falar de boca cheia – cochichou o rapaz todo vermelho de vergonha.
- Deixe! A pobrezinha deve estar com muita fome – disse com um sorriso gentil. Tem notícias de meu filho? – perguntou ansiosamente.
- Da última vez que o vi, ia com os outros para Talgar – respondeu o rapaz.
A mulher sorriu levemente. Estava aliviada por saber que seu filho estava bem. Pelo jeito já sabia da destruição da cidade dos magos.
- Por que todos se encontram tão assustados? – perguntou a garota, vendo que várias pessoas fechavam as portas de suas casas apressadamente.
- Temos a notícia de que mononokes andam destruindo vilarejos em busca do guerreiro escolhido. Por causa disso muitos estão com medo e rejeitam forasteiros.
A afirmação a entristeceu profundamente. Não suportava mais saber que inocentes pagavam um preço tão alto por causa dela. Nesse momento ouviram o som do tambor da torre de vigia. Levantaram-se imediatamente para ver o que estava acontecendo quando viram muitas pessoas correndo em total desespero. Perguntavam o que estava acontecendo, mas ninguém parava para responder, quando ouviram um grito vindo da torre que dizia:
- Mononoke!
Um enorme ser havia destruído parte da muralha e invadido o lugar. Era uma espécie de monstro gigantesco. Tinha cabeça e presas de lobo, mas seu tórax e braços eram como o de um homem. Suas pernas voltavam a se parecer como as de um lobo. Carregava um medonho machado em suas mãos e com ele ia destruindo tudo o que se encontrava em seu caminho.
Rapidamente Dan entrou, pegou o seu arco e correu para fora.
- Vamos! Temos que detê-lo antes que ele destrua tudo e mate todos!
- O que é aquela coisa?
- Uma criatura da princesa. Ela usa o poder do medalhão para dar vida a seres como esse.
- Você disse que eles fazem o trabalho sujo, mas qual o significado disso? – perguntou enquanto corriam em direção ao inimigo.
- Eles não têm sentimentos nem escrúpulos. São criados apenas para destruir.
Os dois chegaram à muralha. Estavam frente a frente com a criatura. A moça nunca tinha visto nada igual aquilo. Parecia um monstro que saiu de algum filme de terror, mas infelizmente era bem real. Usava seu grandioso machado para partir ao meio casas e qualquer outra construção que se encontrasse na direção da lâmina. Izzy estava imóvel. Como poderiam deter aquilo?
-Izzy! Ajude os cidadãos a fugirem! – bradou o moço, enquanto manejava seu arco.
A jovem começou a ajudar o povo. O vilarejo havia se transformado num caos. Crianças choravam perdidas. Senhores de idade ficavam para trás. Todos fugiam em direção as montanhas. Os golpes daquela estrondosa arma faziam com que as casas voassem pelos ares. Infelizmente muitos eram atingidos. Izayoi sabia que tinha que deter aquilo de algum modo.
As flechas de Dan não conseguiam atingir o mononoke. Assim como as lanças dos poucos soldados que enfrentaram o próprio medo e se opuseram a ele. Conseguia derrubá-los apenas com a corrente de ar formada pelo golpe de seu machado. Aquilo era uma fera cheia de ódio e desejo de destruição. Entre um golpe e outro, emitia um horrível som com sua boca, como que se anunciasse a morte e tornasse aquela noite trevas eternas. Era evidente que ele não se importava se o guerreiro escolhido se encontrava naquele lugar ou não. Nem parecia obedecer ordens. Estava ali por vontade, e acabar com aquelas vidas era o seu prazer.
Todos os outros haviam caído. O arqueiro estava sozinho diante da criatura. Nenhuma flecha o atingiu. Porém o jovem era bem treinado. Sabia exatamente o ponto que deveria atingir. Só esperava o momento certo. Desviou-se do golpe da criatura e viu exatamente o que esperava, uma brecha entre os braços do monstro, e, disparando sua flecha, acertou o olho direito do mononoke. Isso fez com que ele largasse o machado no chão. Os berros de dor eram assustadores.
Izzy correu em direção a luta. A maioria dos cidadãos já havia se retirado. O ser, num momento de extrema fúria, agarrou o arqueiro que ficou preso em sua mão. Com ódio mortal, o espremia. Os gritos do rapaz iam se desvanecendo a medida que o monstro o apertava, e, após alguns momentos, nenhum som se ouvia mais do jovem. A criatura, ao ver seu adversário derrotado, aos poucos afrouxou sua mão e arqueiro despencou de dentre seus dedos.
-DANNNNN!!!!!!!!! – gritou Izzy, correndo em sua direção.
Chegando até ele se ajoelhou e o tomou em seus braços com força. As lágrimas corriam por seu rosto enquanto abraçava o amigo. O monstro se aproximava cada vez mais da moça. Sua sede de sangue não havia terminado com a morte do rapaz. Queria mais. Em choque, a garota não conseguia se mover, como uma presa inofensiva diante do predador. Será que a morte havia chegado?

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Em busca da arma mágica

Apenas cinzas restavam da pequena casa. Cinzas que jamais desapareceriam do coração do jovem Dan. Pelo contrário, seriam elas que o alimentariam em sua jornada em busca de justiça. Tudo o que lhe sobrava de seu passado era um arco e algumas flechas. Não tinha mais uma casa para voltar, mas, no fundo, sabia que o caminho que estava prestes a trilhar teria uma viagem só de ida.
Um poeta gravou na rocha uma palavra sobre a perda. Palavra constituída de três ideogramas orientais. Só que apagou um deles, de forma que era impossível ler o que estava escrito. Não se pode ler a perda, somente senti-la. Aquele jovem, agora, entendia muito bem o significado do poema.

Dan caminhou em direção a garota. Ela havia passado à noite toda sentada naquela rocha.
- O que pretende fazer agora Izzy? A princesa não vai parar até te encontrar.
- A culpa foi minha.
- Não! Isto é uma guerra.
- Primeiro Eliot e agora seus pais.
- Eu já disse! Estamos em guerra, muitas vidas são sacrificadas. Está em nossas mãos continuar ou não lutando pelos seus ideais.
- Nossas?
- Irei com você! Seja qual for sua decisão, seja para onde for!
- Eu destruirei esse maldito medalhão! Após isso, retornarei ao meu mundo.
Um brilho de esperança apontou nos olhos do rapaz. Havia uma maneira de evitar a destruição de seu mundo. De vencer a batalha contra a cruel princesa. De vingar à morte de seus pais. Ele sabia que daquele momento em diante, sua vida seria dedicada a ajudar e proteger o guerreiro escolhido.
- Será uma longa viagem Izzy! A cidade de luz, onde se encontra o castelo real, fica muito longe daqui.
- Não tenho nada a perder. Tudo o que tinha já perdi quando vim para cá.
- Nossa missão, então, é destruir a fonte do poder da princesa!
- Isso!
- Não será fácil. Esse objeto possui poderes ilimitados. Como pretende destruí-lo?
- Eliot me falou a respeito de uma arma mágica e que com ela seria possível destruí-lo.
- O metal vivo?!
- Esse mesmo.
- Então a lenda é mesmo verdadeira! – exclamou com surpresa.
- Estou tentando lembrar o bendito nome do lugar desde ontem à noite, mas não consigo. Só me lembro de ele ter dito que ficava onde o céu toca o chão ou coisa assim.
- Kinslei.
- Isso! Isso mesmo!
O rapaz abaixou a cabeça e sentou colocando os braços sobre os joelhos. Como se soubesse de algo que a moça ignorava ou desconhecia. Após pensar um pouco, novamente falou:
- Acontece que Kinslei é uma terra que só se conta nas histórias. Não há nenhum mapa que nos leve até lá. Ninguém sabe onde fica. Lorde Eliot não te disse o caminho?
- Não!
Um silêncio de desesperança pairou no ar. Sairiam em busca de algo sem saber o caminho?
Neste exato momento a mão direita de Izzy começou a brilhar.
- Dan! Depressa! Veja!
O jovem arqueiro rapidamente se levantou e olhou para a mão da garota com espanto. Enquanto eles olhavam buscando decifrar o que aquilo significava, um triângulo brilhante surgiu na palma da mão da moça. Seu ápice apontava para uma trilha na floresta. Conforme ela movia lentamente seu braço para outra direção o triângulo também se mexia, apontando na mesma direção inicial.
- Um guia! – disse o rapaz.
- Acha que nos levará até lá?
- Os guias mágicos geralmente levam seus donos onde o coração deles quer chegar. Como conseguiu um?
- Eliot colocou isso em minha mão antes de me mandar sair de lá.
A garota olhou fixamente para sua mão e lentamente a colocou contra o peito. Fechou seus olhos e com todo seu coração desejou em voz alta:
- Quero que nos leve até a arma mágica.
Após isso, estendeu o braço direito e viu o ápice do triângulo apontando na direção da trilha.
- É por ali – disse a moça – Este caminho nos levará até o lugar onde está a arma lendária, o medalhão e a princesa.
- E o corcel negro – afirmou o rapaz enquanto colocava sua mão sobre o ombro da garota.
- Mesmo assim eu vou!
Dan sorriu gentilmente e gesticulou levemente com a cabeça, como um sinal de ânimo.
- Vamos lá? – perguntou Izzy como quem quer saber se tem um companheiro para o que der e vier.
- Sim – exclamou o jovem com toda a confiança.
Os dois amigos pegaram tudo o que restara da casa que lhes serviriam na viagem. Após isso caminharam para onde o triângulo mágico estava apontando. Izzy olhava para aquele estranho caminho e não sabia ao certo onde ele a levaria. Sabia apenas que quando entrasse por ele talvez não houvesse mais volta. Mesmo com tudo isso em seu coração, continuou caminhando, e, aos poucos, ela e Dan se distanciavam das ruínas da pequena casa. Eram os primeiro passos de uma longa jornada.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Decisão


Algo no coração da jovem dizia que o mago estava vivo. Sabia que se aceitasse o que lhe estava sendo relatado, jamais o veria de novo. Recusava-se a acreditar simplesmente. Havia visto todo o poder dele quando chegou. Não era possível que aquele guerreiro fosse mais poderoso que Eliot. Se assim fosse, realmente a destruição era inevitável.

Pela manhã levantou-se para buscar água. Desde que havia chegado essa atividade já tinha se tornado um hábito assim como tantas outras. Quanto mais os dias iam passando, menos restava daquela Izzy que costumava a se atrasar para chegar à aula, que bolava planos para driblar o porteiro da escola ou que sonhava com o menino mais cobiçado da turma.
- Você levanta cedo hein? – ouviu enquanto se reclinava no córrego.
Virou-se para ver de onde vinha essa pergunta, quando viu o jovem filho do casal manejando seu arco. Parecia estar praticando ou algo assim.
A garota, virando-se apenas parcialmente, fez um gesto com cabeça como quem cumprimenta, mas não quer conversa. Ia retirando-se quando ouviu novamente:
-Espere! Qual é o seu nome?
- Izayoi.
- Que nome bonito! Quer tentar? – perguntou o moço, mostrando o enorme arco.
A timidez fez com que ela hesitasse na resposta. Após pensar um pouco disse:
- Eu posso?
- Claro!
Depois de umas rápidas instruções, Izzy tentou atirar. Já havia visto como se faz pela televisão uma vez. Só que, naquele momento ela percebeu que não era tão fácil quanto na TV. Como era de se esperar, sua flecha passou muito longe do alvo, provocando uma gargalhada no rapaz.
- Não ria! É a primeira vez que pego nessa coisa!
- Não é isso! Veja onde você acertou.
Izzy percorreu o lugar com o olhar para ver onde acertara e encontrou sua flecha fincada numa árvore junto com o chapéu de palha do velho Cassius. Ela o arrancou das mãos do homem justamente no momento em que ia colocá-lo sobre a cabeça. Acho que essa era razão de ele se encontrar parado, olhando os dois, com cara de “tacho”. Com a cena, a garota também não conseguiu segurar o riso. Levemente levou a mão direita na nuca, demonstrando seu constrangimento, como quem sabe que cometeu uma enorme gafe.
- Com certeza é necessário anos de treinamento pra conseguir acertar! – disse com um sorriso meigo e as bochechas ruborizadas de vergonha.
- Você não é daqui não é? Qualquer um sabe que pode se acertar na primeira. É difícil, mas possível. Depende muito mais do coração de quem atira. O treino, na verdade, é mais psicológico. Quer ver? Tente outra vez.
A moça tomou o arco, e, novamente, mirou o alvo. Poderia acertar? Se nunca havia feito isso antes?
- Dessa vez não pense que vai errar. Acredite que pode acertar!
Izzy tentava, de todas as maneiras, acreditar. Voltar para casa parecia uma idéia distante. Teria que se adaptar a esse mundo novo. Se adequar em como ele funciona. De todo coração queria aprender. Começou a pensar que podia. Começou a acreditar.
- Viu! Nossa você conseguiu mesmo!
A jovem não conseguia saber como aquilo era possível. Sabia, apenas, que era possível de algum modo.
- Bem vinda Izayoi! Eu sou Dan.
Uma estranha felicidade estava estampada no rosto da moça, e, após ouvir esta frase, sentiu que as barreiras caíram todas. Sentiu-se bem ao lado daquele rapaz tão atencioso. Era o início de uma grande amizade.
- Pode me chamar de Izzy! É bem mais legal, sem mencionar que fica muito mais fácil! – um leve sorriso acompanhou a afirmação.
- Certo... Izzy...

À medida que o tempo ia passando se sentia mais e mais em casa, apesar da humildade do lugar e da vida difícil que levavam. Guardava consigo uma enorme gratidão por cuidarem dela todo esse tempo. Ela e o jovem arqueiro se tornavam cada vez mais amigos e ele a ensinava a se defender com espada e a aprimorar-se com o arco. Assim, sentiu-se confiante para contar-lhe seu segredo e tudo o que havia acontecido no palácio de Eliot.
- É você?! O guerreiro lendário que salvará o nosso mundo? Por que não disse nada?
- Não sou eu Dan. Eu quase morri! Se seu pai não tivesse me encontrado a tempo... Entenda! O mais provável é que trouxeram a garota errada.
- Você já sabe que as coisas não funcionam como aprendeu em seu mundo. Não depende de o quanto se é forte fisicamente, mas sim de quanta fé possui.
- Mas...
- Venha! Temos que contar a meu pai quem é você.
- Dan não!
O rapaz começou a correr em direção ao casebre. Estava ansioso para contar a seus pais que haviam encontrado o guerreiro lendário. Izzy corria atrás dele, pensava em persuadi-lo a não fazer isso.
No meio do caminho, viram uma grandiosa nuvem preta. Algo estava em chamas. Imediatamente se lembraram de Cassius e Mei e correram em direção ao casebre. O desespero tomou conta de seus corações ao constatarem que seus temores eram verdadeiros. A pequena casa estava tomada pelo fogo. Tentaram fazer algo, mas já era tarde demais.
- Seus pais podem estar no pântano. Temos que encontrá-los. Vamos depressa!
O moço fechou seus olhos. Não se movia. Novamente os abriu, e, fixando o olhar na palma de sua mão direita fechou-a com força, como quem jura vingança. Voltando-se para fumaça que subia aos céus disse:
- Meus pais estão mortos!
- Não! Não! – gritava a garota em meio às lágrimas – Podem estar por aí, em algum lugar. Temos que encontrá-los! Depressa! – dizia agarrando as roupas de Dan.
- Vê estas marcas espalhadas pelo chão?
- Sim.
- São rastros de Mononokes*. A princesa os cria para fazer o trabalho sujo. Usam seus poderes sobrenaturais para o mal e ninguém que se encontre com tais criaturas consegue escapar com vida. Vieram com um propósito e jamais partiriam sem cumprí-lo.
A jovem ficou atônita. Existiria tamanha crueldade? Um amargo sentimento de culpa inundava sua alma. Aquela tal princesa chegaria tão longe só para matá-la? Primeiro uma cidade inteira e agora isso? Um casal de idosos? Quantos mais ela mataria?
Dan caiu de joelhos diante da casa que queimava. Suas lágrimas chegavam até o coração de Izzy como gritos estridentes. Ela, porém, se encontrava de pé em cima de uma rocha. Olhava para o horizonte enquanto via a imagem do casal que sua imaginação criara, e, lembrando-se do carinho da velha Mei, disse consigo mesma:
- Eu destruirei o medalhão!



* Mononoke – animal sobrenatural ou também criatura sobrenatural
.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O casebre

- Você está bem?
A garota abria seus olhos aos pouquinhos.
- Você está bem? – ouviu novamente.
Voltando-se viu uma senhora sorrindo. Estava sentada em uma cadeira ao lado da cama. Olhou ao redor. Era um casebre de madeira bem humilde.
- Onde estou? – perguntou a jovem ainda fraca.
- Em minha casa. Meu marido a encontrou desmaiada no pântano. Pelo jeito você tomou toda aquela tempestade.
- O que aconteceu com Eliot?
- Eliot?
- Sim.
- Não sei do que está falando – disse a mulher.
Mas antes que ela terminasse, ouviram outra voz vinda da porta, dizendo:
- Está se referindo ao regente da cidade dos magos?
Era um senhor franzino, com um enorme chapéu oriental. Olhando assim, parecia um andarilho ou algo do tipo.
- Esse mesmo. Quando saí de lá, ele estava lutando contra um homem. Queria saber se está bem...
- Então você fez mesmo uma longa viagem. Kirpa fica muito distante daqui.
- Muito distante?
- Descanse! Você está muito debilitada. Deve descansar bastante.
Sem fazer mais nenhuma pergunta, Izzy deitou-se novamente. Só pensava em como aquele círculo poderia tê-la trazido para tão longe e o que faria de agora em diante.

Durante muitos dias esse bondoso casal cuidou da jovem. Aos poucos, Izzy se recuperava e ganhava mais cor e força. Não havia comentado nada sobre o episódio no palácio de Eliot, nem quem era ou quem os magos achavam que ela era. Nesse tempo aprendeu mais e mais de como é dura à vida do povo de Farh. O casal se chamava Cassius e Mei. E mesmo com a convivência desses dias, Izzy não conseguiu saber muito sobre a história de vida deles. Só que aguardavam o retorno de seu filho.
Viviam da pequena plantação ao redor da casa e do artesanato de Cassius que conseguia transformar materiais colhidos no pântano, em objetos úteis como cadeiras, utensílios, etc. Ele era muito habilidoso com as mãos.
A bondade do casal fez com que a jovem se afeiçoasse a eles, cada dia mais. Izzy, por gratidão, ajudava a senhora nas tarefas domésticas.
Ao cair da tarde, a garota se afastava do casebre para juntar lenha. Os dias eram quentes, mas as noites extremamente frias. Enquanto trabalhava, olhava para o céu que nessa tarde estava especialmente bonito. Trazia lembranças de sua casa. Seria possível mesmo retornar? Ou deveria aceitar seu destino? Aquele casal a havia acolhido de tal maneira, que através deles quase conseguia se sentir em casa.
Já se aproximava do casebre, com os braços cheios de lenha, quando avistou um cavalo vindo em sua direção. Um repentino temor tomou conta de Izzy. Poderia ser o corcel negro? Ele teria a encontrado? No momento em que pensou em reagir, viu a velha Mei correndo em direção a ele.
- Cassius, depressa! É nosso filho!
O jovem deu um salto de cima do cavalo, como se a ansiedade por abraçar sua mãe o impedisse de definir a distância entre eles. A garota se surpreendeu ao ver o rapaz. Normalmente, jovens como aquele eram estudantes colegiais. Como um garoto daquela idade podia vir cavalgando? Trazendo em sua montaria objetos que comprovariam a longa viagem que fizera, além de um enorme arco e inúmeras flechas?
Enquanto abraçava sua mãe, o pai se aproximou e levemente curvou sua cabeça, uma demonstração singela de saudade e orgulho.
E o garoto arqueiro, voltando-se para a menina, perguntou:
- E esta? Quem é?
- Seu pai a encontrou no pântano perdida.
- Venha filho! – disse o velho – Temos muito a conversar.

O velho casal retornou para a casa acompanhados de seu filho. A moça vinha atrás trazendo a lenha que apanhou.
- Entre minha jovem queremos que conheça nosso filho – disse Cassius retirando o enorme chapéu da cabeça.
- Pai! Kirpa foi destruída. O exército da princesa, liderado pelo corcel negro, devastou tudo! Os poucos magos que sobraram se reunirão em Talgar para reorganizar a resistência e eu devo me juntar a eles!
A jovem, ouvindo que Kirpa havia sido destruída, interrompeu a conversa repentinamente.
- E Eliot? O que aconteceu com ele?
- Você conhece Lorde Eliot? Como pode conhecer o mais poderoso mago do mundo? Quem é você? Exijo que me diga agora mesmo.
O rapaz se alterou com a pergunta da moça. Como aquela jovem de aparência tão simples podia chamar o maior dos magos apenas pelo nome? O velho pai levou sua mão ao braço do jovem. Fazendo um sinal negativo com a cabeça. Aquele gesto deixava claro que desaprovava o interrogatório da garota. Já mais calmo se pôs a responder a pergunta:
- Ouvimos que ele pelejou contra o corcel negro, mas mesmo Lorde Eliot não conseguiu vencê-lo. O corcel ainda vive.
- E Eliot?
- Os rumores são de que aquele foi seu último sacrifício.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Na escuridão do pântano

A noite estava escura e sombria. Somente os relâmpagos iluminavam ao redor, anunciando a breve chegada de uma terrível tempestade. Sem saber explicar, Izzy se encontrava boiando numa enorme poça barrenta. Quando conseguiu assimilar tudo o que havia acontecido, apoiou-se nos cipós para conseguir sair. A lama negra estava por todo o seu corpo, tingindo seu uniforme escolar. Por mais que se esforçasse, não conseguia retirar por completo aquela densa lama preta. Com a ajuda dos raios, conseguia ver mais ou menos o que estava a sua volta.
- Onde eu estou! – gritava a moça em profundo desespero.
Sua voz ecoava, tornando a paisagem ainda mais horrível. O pavor foi tomando conta de seu coração. Não havia ninguém, nada além daquelas sombras de árvores que mais pareciam criaturas horrendas. Que tipos de animais se arrastariam por aquelas matas? – esse pensamento incitava mais ainda o pavor, que já não era pequeno.
Os estrondos dos trovões começavam a se intensificar e os clarões refletiam a mata como se fossem figuras sombrosas. A chuva começou a cair gelada. Cada gota que tocava sua pele, a fazia recordar ainda mais do conforto de sua casa. A cada passo, seus pés afundavam ainda mais no solo lamacento. Ajuda, naquele momento, parecia mais um conto de fadas.
As lágrimas escorriam pelo seu rosto, enquanto caminhava sem rumo. Se via sozinha e sem fazer a menor idéia de onde estava. Desejava não estar ali. Pensava em sua cama que era tão quentinha e em sua mãe, que sempre preparava coisas tão deliciosas na hora do jantar. Mesmo que o cardápio fosse simples, era o mais gostoso, pois ela tinha o dom de transformar algo comum em especial.
Deviam estar preocupados! Desesperados a minha procura! – pensava a garota. Nunca havia ficado fora de casa por tanto tempo.
- Por que eu? Por que tive que ir até aquele lago idiota? – sussurrava consigo mesma.
Aquilo era um pesadelo e tudo o que Izzy mais almejava era acordar. Seu corpo se tornava cada vez mais pesado. Sua visão estava turva. Não queria se entregar, mas, por mais que se quisesse, já não tinha mais forças para continuar a lutar contra o infortúnio. Cedeu à força da gravidade sem nem sentir o impacto. Seu corpo estava anestesiado pela chuva fria.
Em meio ao delírio, uma visão tomou os pensamentos da jovem. Já havia visto esses acontecimentos antes. Sim. Era a mesma visão que contemplara no lago. Bem mais intensa e real. Os gritos daquelas pessoas soavam aos ouvidos de Izzy como raios. Já não queria mais ver aquilo. Não queria ouvir aquelas vozes. O que uma garota como ela poderia fazer para impedir tamanho sofrimento? Não conseguia nem mesmo mover seu corpo que se encontrava estirado no lamaçal.
Aos poucos, outra imagem se formava. Não conseguia definir muito bem. Assemelhava-se a uma espécie de pêndulo. Lentamente a figura de um homem surgia por trás daquele pêndulo. Seu olhar era gentil, porém triste. Notava-se que tentava sorrir enquanto chorava. Parecia uma imagem familiar, mas não se lembrava de ter visto tal homem em toda sua vida. A imagem se tornara nítida. Não era um pêndulo e sim um enorme pingente. Ele possuía um medalhão, com um pingente no formato de esfera em volta do pescoço. Ela esticava seu braço para tocar o medalhão, mas não conseguia alcançá-lo.
Abriu os olhos e, quando outro clarão iluminou ao derredor, viu uma sombra misteriosa em pé, na sua frente. Não sabia definir se aquilo era real ou não. Se havia mesmo alguém ali parado ou não. Antes que tirasse essa dúvida, escureceu-lhe novamente a vista. Izzy perdeu os sentidos antes de descobrir que, aquela “sombra” era real até de mais.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Corcel negro

Do alto da torre Eliot, Izzy e os outros magos observavam a terrível batalha que se espalhara por toda Kirpa. De lá de cima se podia ver o forte guerreiro, montado em seu enorme cavalo negro, que comandava a ofensiva. Seu poder era estrondoso. Poderia vencer todo exército sozinho – pensava a garota, mas um pensamento como esse era assustador demais.
- Aquele homem destruiu a redoma Eliot? – indagou a jovem.
- Sim.
- Quem é ele?
- Seu nome é Kei-tar, mas é conhecido como o corcel negro.
- Corcel negro!?
- Ele é o mais poderoso guerreiro de Farh. É o guardião da princesa. Ele e seus sete discípulos formam a liderança do exército real.
Eliot falava com tanto pesar. Não conseguia esconder a tristeza de ver o corcel negro lutando e destruindo a cidade dos magos.
- É apenas questão de tempo até ele invadir o palácio. Venha! – disse Eliot voltando em direção ao salão principal.
- Para onde vamos? – perguntou Izzy.
- Você precisa fugir. Ele veio em busca de sua vida, e não vai parar até conseguir.
- Uma cidade inteira está lutando para me proteger?
- Todos nós morreríamos para protegê-la. – bradou o mago enquanto corriam em direção ao salão.
- Não podem fazer isso!!! Não sou quem vocês pensam que...
- Vigiem o portal! Tentem segurá-lo o máximo que puderem – exclamou Eliot para os outros magos.
Eliot e a jovem entraram sozinhos no salão principal.
- Todos aqueles magos podem apenas segurá-lo por algum tempo?
- Infelizmente sim – respondeu.
De costas para a garota, o mago fechou seus olhos e segurou firmemente o báculo dourado. Começou a se concentrar. Estava pronto para realizar alguma coisa.
- Ele era seu amigo, não era? - perguntou a jovem com o olhar fixo na figura do mago.
Imediatamente Eliot abriu os olhos, como se a pergunta fosse um afiado punhal, que acabaram de enterrar em seu peito. Sem se virar, respondeu:
- Sim.
- E por que se tornaram inimigos?
- A minha fidelidade é apenas para com o povo de Farh; a fidelidade e o coração dele são apenas para a princesa.
O mago novamente voltou a se concentrar. Em seguida uma pequena luz formou-se em sua mão direita. Parecia um objeto, mas era tão brilhante que não dava para definir sua forma. Virando-se para Izzy colocou aquela luz em sua mão. De repente “aquilo” começou a penetrar sua pele. A garota olhava assustada, porém não sentia dor alguma. Penetrou completamente de forma que já não havia mais nada em sua mão. Entregou-lhe também uma espécie de saquitel.
- Estas coisas lhe serão muito úteis em sua jornada.
A garota ergueu a cabeça e olhou-o com espanto.
- Eu já lhe disse que está em suas mãos decidir se vai ou não cumprir sua missão, Izayoi. Mas, infelizmente, creio que agora se tornou uma questão de sobrevivência. Se decidir não lutar, imagino que quando esta terra for destruída, você retornará ao seu mundo. Até lá, terá que ficar viva.
Inesperadamente ouviram estrondos que vinham detrás do portal e por suas frestas podiam ver os clarões das explosões.
- Entre no circulo – disse Eliot.
- Mas... e você?
- Não se preocupe comigo! Vá!
Izzy correu até o círculo mágico, mas antes que pisasse naquela água, as duas gigantescas portas, que formavam o portal de entrada, voaram para dentro da sala. Em meio à nuvem de poeira, a figura de um homem se aproximava. Aquele era o corcel negro? – pensava a garota. Era um jovem de uma beleza inigualável. Seus cabelos eram vastos e negros como a noite; seus olhos eram de uma cor estranha, cor de mel talvez. Olhando de frente parecia que seus cabelos eram curtos, somente em alguns poucos momentos, se percebia a fina e comprida trança que corria por suas costas. Seu corpo era coberto por uma armadura escura e uma capa que se arrastava pelo chão. Trazia consigo uma imponente espada prateada.
- Então... você foi capaz... – disse o jovem.
- Veja o rosto dela. Ela é autêntica! – afirmou o mago.
- Ela é abominação! – gritou o guerreiro.
Como um raio, o corcel negro sacou sua espada e num salto extremamente habilidoso, já se encontrava em cima de Izzy, pronto para golpear a moça. A jovem virou-se, fechando firmemente os olhos, como se não houvesse mais salvação, quando escutou o estridente timbre da espada se chocando em outro metal. A garota abriu os olhos e viu Eliot defendendo o golpe mortal do corcel, com seu báculo.
- Entre na água! – bradou o mago.
- ELIIIOOOTTTTT!!!!!
- Vá!!! Agora!!!!
Izzy pisou no circulo. Era feito de água, mas firme como chão. Aos poucos começou a afundar como se estivesse sendo tragada por areia movediça. Assistia de longe a assustadora luta entre o mago e o corcel, enquanto ia, lentamente, entrando naquele círculo. Seu corpo mal havia acabado de entrar por completo na estranha água mágica, quando viu a ponta de uma lâmina ficar a milímetros de distância do seu rosto. Neste momento percebeu que aquele homem jamais desistiria.