sexta-feira, 13 de abril de 2007

O vilarejo de Quil-oc

Por vários dias Izzy e Dan andaram pela trilha. Alimentavam-se de caça e frutos silvestres que encontravam pelo caminho. A jovem aprendeu rapidamente a sobreviver nesse novo mundo. Em alguns momentos se lembrava do gosto do chocolate, do refrigerante e tantas outras guloseimas que adorava. Mas a cada passo mais se conformava que, talvez, jamais experimentasse tais coisas novamente.
Durante a viagem, o arqueiro compartilhou sua história com a moça. Falou sobre sua infância, seu treinamento, sua entrada para o exército real e como a realidade daquele lugar havia mudado com a morte do rei. Izzy, por sua vez, contou sobre seu mundo. O jovem custava a acreditar que poderiam existir máquinas gigantescas que voam pelo céu, e outras que iam além do céu, assim como ela custava a crer que pessoas podiam flutuar apenas por acreditar que podem. O choque de conhecimentos era grande, mas isso não os impedia de serem cada vez mais amigos. As diferenças até os ajudavam a crescer num momento de dificuldade.
Se esforçavam para cruzar uma densa floresta, que mais parecia um labirinto e, após muita mata, viram o céu novamente. Logo a frente havia uma espécie de muralha feita com toras de árvores. A garota olhou para a palma de sua mão e viu que o triângulo mágico apontar para aquele lugar.
- Que lugar é este? – perguntou a jovem admirando a enorme construção.
- É um vilarejo! Estamos na terra de Quil-oc. Pelo que sei este lugar é pacífico. Estaremos seguros aqui. Podemos ficar uns dias e aproveitamos para conseguir suprimentos.
Izzy olhava tudo com surpresa. Além de Kirpa não havia visto nenhuma outra cidade. Cruzaram o portão acompanhando as inúmeras carroças que transitavam por ali. Era uma vila grande, mas bem humilde. Não se comparava com a beleza da cidade dos magos. Por aí, ela percebeu que, assim como em sua terra, Fahr também possuía diferentes lugares e pessoas.

Dan logo encontrou um lugar para se hospedarem. Uma velha pousada, cuja proprietária era mãe de um amigo que havia lutado ao seu lado no exército da resistência. Lá puderam descansar. Izzy não tomava banho direito há dias. O jovem arqueiro já estava acostumado às duras privações de uma jornada como esta, mas a moça tinha que se acostumar a cada minuto.
Após desfrutarem de um leve conforto, os jovens sentaram-se a mesa. Não era um banquete, mas eles não viam tanta comida assim há muito tempo. De repente o rapaz notou prato por prato passar por ele com se estivesse sendo sugado. Olhou para Izzy e se espantou quando viu que ela estava comendo em uma velocidade incrível. Rapidinho acabaria com tudo. Na verdade era difícil de acreditar que uma jovem tão delicada como aquela tivesse tamanho apetite.
- Que bom que gostou da comida – disse a senhora proprietária aproximando-se da mesa.
- Está uma delícia – tentou dizer a moça, mas como estava com a boca cheia nem todos os ouvintes conseguiram entender.
- Izzy não sei como é no seu mundo, mas aqui é falta de educação falar de boca cheia – cochichou o rapaz todo vermelho de vergonha.
- Deixe! A pobrezinha deve estar com muita fome – disse com um sorriso gentil. Tem notícias de meu filho? – perguntou ansiosamente.
- Da última vez que o vi, ia com os outros para Talgar – respondeu o rapaz.
A mulher sorriu levemente. Estava aliviada por saber que seu filho estava bem. Pelo jeito já sabia da destruição da cidade dos magos.
- Por que todos se encontram tão assustados? – perguntou a garota, vendo que várias pessoas fechavam as portas de suas casas apressadamente.
- Temos a notícia de que mononokes andam destruindo vilarejos em busca do guerreiro escolhido. Por causa disso muitos estão com medo e rejeitam forasteiros.
A afirmação a entristeceu profundamente. Não suportava mais saber que inocentes pagavam um preço tão alto por causa dela. Nesse momento ouviram o som do tambor da torre de vigia. Levantaram-se imediatamente para ver o que estava acontecendo quando viram muitas pessoas correndo em total desespero. Perguntavam o que estava acontecendo, mas ninguém parava para responder, quando ouviram um grito vindo da torre que dizia:
- Mononoke!
Um enorme ser havia destruído parte da muralha e invadido o lugar. Era uma espécie de monstro gigantesco. Tinha cabeça e presas de lobo, mas seu tórax e braços eram como o de um homem. Suas pernas voltavam a se parecer como as de um lobo. Carregava um medonho machado em suas mãos e com ele ia destruindo tudo o que se encontrava em seu caminho.
Rapidamente Dan entrou, pegou o seu arco e correu para fora.
- Vamos! Temos que detê-lo antes que ele destrua tudo e mate todos!
- O que é aquela coisa?
- Uma criatura da princesa. Ela usa o poder do medalhão para dar vida a seres como esse.
- Você disse que eles fazem o trabalho sujo, mas qual o significado disso? – perguntou enquanto corriam em direção ao inimigo.
- Eles não têm sentimentos nem escrúpulos. São criados apenas para destruir.
Os dois chegaram à muralha. Estavam frente a frente com a criatura. A moça nunca tinha visto nada igual aquilo. Parecia um monstro que saiu de algum filme de terror, mas infelizmente era bem real. Usava seu grandioso machado para partir ao meio casas e qualquer outra construção que se encontrasse na direção da lâmina. Izzy estava imóvel. Como poderiam deter aquilo?
-Izzy! Ajude os cidadãos a fugirem! – bradou o moço, enquanto manejava seu arco.
A jovem começou a ajudar o povo. O vilarejo havia se transformado num caos. Crianças choravam perdidas. Senhores de idade ficavam para trás. Todos fugiam em direção as montanhas. Os golpes daquela estrondosa arma faziam com que as casas voassem pelos ares. Infelizmente muitos eram atingidos. Izayoi sabia que tinha que deter aquilo de algum modo.
As flechas de Dan não conseguiam atingir o mononoke. Assim como as lanças dos poucos soldados que enfrentaram o próprio medo e se opuseram a ele. Conseguia derrubá-los apenas com a corrente de ar formada pelo golpe de seu machado. Aquilo era uma fera cheia de ódio e desejo de destruição. Entre um golpe e outro, emitia um horrível som com sua boca, como que se anunciasse a morte e tornasse aquela noite trevas eternas. Era evidente que ele não se importava se o guerreiro escolhido se encontrava naquele lugar ou não. Nem parecia obedecer ordens. Estava ali por vontade, e acabar com aquelas vidas era o seu prazer.
Todos os outros haviam caído. O arqueiro estava sozinho diante da criatura. Nenhuma flecha o atingiu. Porém o jovem era bem treinado. Sabia exatamente o ponto que deveria atingir. Só esperava o momento certo. Desviou-se do golpe da criatura e viu exatamente o que esperava, uma brecha entre os braços do monstro, e, disparando sua flecha, acertou o olho direito do mononoke. Isso fez com que ele largasse o machado no chão. Os berros de dor eram assustadores.
Izzy correu em direção a luta. A maioria dos cidadãos já havia se retirado. O ser, num momento de extrema fúria, agarrou o arqueiro que ficou preso em sua mão. Com ódio mortal, o espremia. Os gritos do rapaz iam se desvanecendo a medida que o monstro o apertava, e, após alguns momentos, nenhum som se ouvia mais do jovem. A criatura, ao ver seu adversário derrotado, aos poucos afrouxou sua mão e arqueiro despencou de dentre seus dedos.
-DANNNNN!!!!!!!!! – gritou Izzy, correndo em sua direção.
Chegando até ele se ajoelhou e o tomou em seus braços com força. As lágrimas corriam por seu rosto enquanto abraçava o amigo. O monstro se aproximava cada vez mais da moça. Sua sede de sangue não havia terminado com a morte do rapaz. Queria mais. Em choque, a garota não conseguia se mover, como uma presa inofensiva diante do predador. Será que a morte havia chegado?

2 comentários:

Samuel Medina (Nerito Samedi) disse...

Não acredito! Você matou o arqueiro Dan! T_T Tô muito chateado...
Eu tenho uma história em que também há um arqueiro chamado Dan, sabia? Mas faz tanto tempo que eu não mexo nela que havia esquecido...
Nesse capítulo ele estava muito parecido com o Ashitaka, de Mononoke Hime... Mas vc matou ele... não adianta... ah... Não sei o que faço...

Anônimo disse...

Meu, vc é muito boa escritora! está de parabéns!!!
Gostaria de ter a criativade que você tem! Só tem essa história ou tem mais sites com outras histórias por aí?
Parabens mais uma vez
Um abraço